quarta-feira, 17 de junho de 2009

POESIA DE ÁLVARO DE CAMPOS

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravia às vezes ao sair
Das próprias sensações que recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que ao meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo antes as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

ÁLVARO DE CAMPOS

Sem comentários: